segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Nada mudou

Nada mudou... nada nunca muda.... por mais que pareça que muda, nada muda. Tudo continua exatamente igual, numa inércia que parece incapaz de ser quebrada. Ainda bem, se mudar, teremos q abrir mão, renunciar.
Toda mudança exige renúncia, exige separação, exige dor. A inércia exige apenas paciência, compreensão e preguiça. Talvez por isso não mudamos, pela preguiça.
Somos preguiçosos natos. Somos gatos vadios, dormindo ao sol da primavera. Enquanto os campos florecem, os parques se enchem de alegria, a vida passa arrastando consigo os anos que nos levam a juventude, e continuamos nessa janela, deitados, preguiçosos, olhando as pessoas correndo e tentando se esconder desse mesmo tempo.
Aceitamos com passividade a chegada do verão, o calor que aumenta ainda mais nossa preguiça, que nos deixa moles de vontade. Lentamente, movemos a cabeça apenas para acompanhar pessoas migrando para praias, aglomerando-se nas compras de natal, festas, férias, boates, barzinhos, caminhadas.... ufa... cansamos só de olhar.
O outono prova que a mudança traz dor, e pensamos carinhosamente no nosso tédio. As árvores floridas já estão nuas, tremendo aos primeiros ventos frios. As praças não estão mais tão cheias, e as pessoas murcham, como as flores, e caem, como as folhas. A vida prepara-se para o inverno, e nós simplesmente fechamos o vidro, mas continuamos observando tudo.
E chega o frio. Cortante do inverno. Com lareiras acolhedoras, aquecedores amados, já esquecidos a algum tempo. As pessoas, guardando suas excessões, esperam impacientemente a primavera, e suas flores, seus cheiros, suas cores. E nós continuamos observando.
Por isso somos tão fortes, eu e tu. Pois aceitamos o tempo, não fugimos dele.
Ainda lembro como hoje, suas mãos geladas, a tremedeira e a voz embaralhada. E elas não mudaram. Mesmo com a chegada do verão, continuam geladas, embora a voz não embaralhe e não tremas mais. Mas também não mudei, minhas mãos continuam quentes, prontas para receber as tuas. Por isso continuamos assim, olhando pela janela, juntos, enquanto os outros correm em busca do que está bem diante de seus olhos.
Nem sempre buscamos a felicidade correndo atrás dela. Muitas vezes é necessários sentar e esperar ela passar pela janela.

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