quinta-feira, 30 de abril de 2015

O importante é ter razão

Descartes diz que: "Não há nada no mundo que esteja melhor repartido que a razão: todos estão convencidos de que a tem de sobra."

O atual cenário sócio-político brasileiro está assim. Agravado/melhorado/aumentado pela facilidade de expressão pelas redes sociais, todos tem opiniões sobre todos os assuntos, ainda mais neste fervor que está a política no nosso país.

Analistas comemoram: "Sim, está se discutindo política no Brasil!!!"
Políticos bradam: "O povo está se manifestando!!!"

Facebook, Twitter, Instagram, "Tizapi" pipocam postagens sobre quem está certo, quem está errado, quem é bom, quem é mau, quem roubou mais ou menos, quem foi preso justa ou injustamente. Obviamente, todas opiniões amparadas em argumentos fortíssimos, quase irrefutáveis, vindo de fontes super confiáveis.

Por exemplo:

O cidadão com fortes ligações de esquerda justifica todo seu discurso em idôneas e imparciais matérias da Carta Capital. Esta maravilhosa revista que é a única que tem coragem de refletir a realidade nua e crua deste maravilhoso país que melhora a cada dia, apesar desta oposição burguesa e escravizadora.

Já o cidadão com vertentes direitistas prova que a esquerda está levando o país a derrocada com contundentes reportagens jornalisticas e profissionais da Veja, que não se corrompe com o poder do comunismo cada vez mais dominador, prestes a transformar o Brasil em uma nova Cuba.

E como o importante nisto tudo é ter razão, caso essa rica argumentação de ambos não tenha força suficiente, xingamentos e trocas de acusações são bem vindas. É tudo um grande GreNal, onde o que importa é provar que seu time é melhor. Nem que pra isso seja necessário destruir o país.

Mas nem sei porque escrevo isso!!! Claramente serei um Comunista de Direita, ou um Coxinha Companheiro. E quem provará que sou tudo isto serão mídias isentas e certamente com o único interesse de melhorar o Brasil, desde que seja do seu jeito.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Sentir-se Vivo

Você lembra quando foi a última vez que se sentiu vivo?

Não, não falo de coração batendo, sangue circulando, pulmões inflando. Não falo de biologia pura, de homem-máquina, de sistema nervoso central. Se for neste sentido, estamos todos vivos, a não ser que esteja vivendo em algum apocalipse zumbi.

Aliás, zumbis. Talvez seja a melhor definição para o ser humano contemporâneo. Acorda, toma banho, pega trânsito, trabalha, trabalha, trabalha, trabalha, trabalha, pega trânsito, vegeta e dorme. Isso tudo com algumas variáveis. Às vezes um pouco de álcool, às vezes um pouco de sexo, às vezes alguma outra droga, novelas, filmes, seriados, Facebook. Algumas risadas, alguns bocejos, um beijo e boa noite.

E a vida passa.
E passa....
E passa....

Passa veloz. Despercebida. Quase indolor.

Quando dói, orações. E mais álcool. E alguns afagos. Psicólogos, psiquiatras, cartomantes.

Elogios. Elogios fazem a vida parecer melhor, somos vencedores. Somos bons. Não estamos aqui por nada. Elogios. Ego.

Promoções, diplomas, certificados. Pequenas pílulas de prazer. Fazem a vida parecer menos morna, menos monótona. Faz parecer que existe algum sentido em tudo isso. Parece que ser morno é o melhor. Sendo morno você leva até o final.

Para o epitáfio, algo justo:

"Aqui jaz homem honesto, deixou família, filhos e cachorro."

Dor. Talvez o único momento em que a lucidez é trazida a tona. A dor nos obriga a lembrarmos que estamos vivos. E como dói lembrarmos disso. Como dói. Tenho certeza sim que você lembra a última vez que sentiu tanta dor que só queria acordar. E, enquanto tentava acordar a vida batia fria e violenta na sua cara dizendo: "Cá estou, acorda."

Então lhe deram consolo. Remédio. Amparo. E então se esqueceu da visita da vida. Mas ainda sente calafrios em pensar nela. Medo. Angústia. Aliás, por medo abrimos mão da vida.

Infelizmente, é a forma mais comum de nos encontrarmos com a vida.

E tem outra?

Ora, não te lembras?!

Pense quando suas pernas tremeram tanto que parecia que não podia ficar em pé. Ou do calor no rosto queimando, e o suor escorrendo no frio do inverno. As pupilas dilatando, a cabeça girando, o coração saltando pra fora do peito. A vergonha de não conseguir esconder a vida.

Sim, sim, sim... sei que lembra... sei sim... tenho certeza.... pode até sentir de novo... sei que sorri escondido às vezes... sim... lembra, pois a vida quando chega, deixa marcas... memórias... histórias... sorrisos... saudades...

E não espere até amanhã para reencontrá-la. Logo, ela se vai. E aí é tarde.