terça-feira, 7 de abril de 2015

Sentir-se Vivo

Você lembra quando foi a última vez que se sentiu vivo?

Não, não falo de coração batendo, sangue circulando, pulmões inflando. Não falo de biologia pura, de homem-máquina, de sistema nervoso central. Se for neste sentido, estamos todos vivos, a não ser que esteja vivendo em algum apocalipse zumbi.

Aliás, zumbis. Talvez seja a melhor definição para o ser humano contemporâneo. Acorda, toma banho, pega trânsito, trabalha, trabalha, trabalha, trabalha, trabalha, pega trânsito, vegeta e dorme. Isso tudo com algumas variáveis. Às vezes um pouco de álcool, às vezes um pouco de sexo, às vezes alguma outra droga, novelas, filmes, seriados, Facebook. Algumas risadas, alguns bocejos, um beijo e boa noite.

E a vida passa.
E passa....
E passa....

Passa veloz. Despercebida. Quase indolor.

Quando dói, orações. E mais álcool. E alguns afagos. Psicólogos, psiquiatras, cartomantes.

Elogios. Elogios fazem a vida parecer melhor, somos vencedores. Somos bons. Não estamos aqui por nada. Elogios. Ego.

Promoções, diplomas, certificados. Pequenas pílulas de prazer. Fazem a vida parecer menos morna, menos monótona. Faz parecer que existe algum sentido em tudo isso. Parece que ser morno é o melhor. Sendo morno você leva até o final.

Para o epitáfio, algo justo:

"Aqui jaz homem honesto, deixou família, filhos e cachorro."

Dor. Talvez o único momento em que a lucidez é trazida a tona. A dor nos obriga a lembrarmos que estamos vivos. E como dói lembrarmos disso. Como dói. Tenho certeza sim que você lembra a última vez que sentiu tanta dor que só queria acordar. E, enquanto tentava acordar a vida batia fria e violenta na sua cara dizendo: "Cá estou, acorda."

Então lhe deram consolo. Remédio. Amparo. E então se esqueceu da visita da vida. Mas ainda sente calafrios em pensar nela. Medo. Angústia. Aliás, por medo abrimos mão da vida.

Infelizmente, é a forma mais comum de nos encontrarmos com a vida.

E tem outra?

Ora, não te lembras?!

Pense quando suas pernas tremeram tanto que parecia que não podia ficar em pé. Ou do calor no rosto queimando, e o suor escorrendo no frio do inverno. As pupilas dilatando, a cabeça girando, o coração saltando pra fora do peito. A vergonha de não conseguir esconder a vida.

Sim, sim, sim... sei que lembra... sei sim... tenho certeza.... pode até sentir de novo... sei que sorri escondido às vezes... sim... lembra, pois a vida quando chega, deixa marcas... memórias... histórias... sorrisos... saudades...

E não espere até amanhã para reencontrá-la. Logo, ela se vai. E aí é tarde.




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