quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Nostalgia cega

Ultimamente tenho recebido muuuuuitos emails e muitas mensagens sobre como é triste o mundo atual. Temos drogas, guerras, violência. A família deixou de ser uma instituição respeitada. O mundo está perdido. Minha geração destruiu o mundo. Pergunto-vos: "Será?".
Tenho pavor ao culto ao passado e da radicalidade de dizer que no meu tempo era melhor, as pessoas se respeitavam mais, o mundo era mais tranquilo. É triste escutar que nenhuma esperança mais nos resta.
Pois bem, como sempre, sou do contra. Sou contra essa bobagem de dizer que tudo no passado era melhor. E também sou contra em dizer que agora é melhor. Cada tempo com suas mazelas e suas vitórias.
Mas, para que não restem dúvidas de que estou tendo um raciocínio válido, real, que não estou sonhando ou viajando, vamos fazer algumas pequenas comparações, com bordões que corriqueiramente escuto.
Primeiro, e talvez o mais deprimente, "a família não existe mais." Eu diria, ainda bem. No passado os pais tinham dezenas de filhos, que deveriam apenas para servir de mão de obra. Os que não servissem para o trabalho, seriam fardos a serem carregados, isso nas culturas mais desenvolvidas. Em outras, deveria-se simplesmente descartar esse ser. As mulheres não eram bem quistas se não tivessem o primeiro filho homem, e se nascessem meninas, era um castigo. Isso era repetidamente jogado na cara da criança, e adolescente. Os adultos sentavam a mesa enquanto as crianças, tidas como de menor valor, respeitavam a refeição, para só após comer as sobras. Os filhos, quando aprontássem, ou não quisessem trabalhar, porque sim, trabalháva-se apartir do momento em que se tinha força para erquer uma enchada, apanhavam feito animais com cintos, cordas. Assim era ensinado o RESPEITO aos mais velhos. Eu chamaria MEDO. Será isso concepção de família? Será essa a concepção de respeito que tanto clamam hoje em dia?
Tudo bem, não concordo com as estripulias dos jovens de hoje. Mas será que isso não foi apenas o resultado dos excessos causados pelos hoje avós em seus filhos? Será que os pais não soltaram tanto as rédeas por causa de traumas tidos com seus pais? Acredito que sim.
No passado também, ouço seguidos relatos de fome, ou quase fome. Comida escassa ou de grande dificuldade para ser conseguida. Ao contrário de hoje, que engordamos com nosso excesso de opções gordurosas. Melhor fome ou obesidade?
As guerras e a violência. Essa talvez seja a parte que mais assuste. Hoje, temos que nos trancar dentro de grades, para que não soframos com assaltos, roubos, mortes, estupros. Mas lembro-me de uma história que minha vó contava, que um bandido que se escondia na região onde eles moram, obrigáva-os a deixar comida para ele, que na volta de seus atos de banditismo, roubava deles o pão que era tão difícil de ser conseguido.
E quando aconteceram as grandes Guerras? E quando aconteceu o Holocausto? E quando aconteceu a perseguição as bruxas, a Santa Inquisição? E as cruzadas? Será que as guerras de hoje são piores que as de outrora?
E as drogas, que hoje matam nossos jovens? Antigamente também os matava, não fisicamente, mas psicologicamente. Os pais bebiam, principalmente no interior. Muitos alcoólatras, chegavam em casa bêbados, batiam na esposa, nos filhos e em quem mais cruzasse seu caminho. Existem inúmeros casos de pais matarem filhos espancados, ou filhos matarem pais para defenderem suas mães?
E as violências contas as mulheres? Contra os negros? Contra os índios?
Leiam os livros de história. Analisem realmente o que aconteceu no passado. Informem-se. Talvez o grande pecado da nossa época, é termos amplo acesso a cultura, e não saber como utilizar.
É fácil ser radical. Rebelde sem causa. Ou um velho resmunguento, falando do passado glorioso em que apanhava todas as noites antes de dormir, ou que passava frio e fome. Se hoje tudo é fácil, é porque evoluímos.
Poucos deram-se conta de que o mundo continua igual. Ainda somos bárbaros, só que agora Techno Bárbaros. Somos bárbaros de terno, gravata e celulares. Mas ainda somos iguaizinhos eram nossos pais, avós, bisavós, tataravós............
Mas, se me perguntássem se eu pudesse escolher em que ano eu gostaria de ter nascido, responderia, 2010. Sem sombra de dúvidas.
Minha época, se assim posso chamar, não é pior que nenhuma outra. Com a diferença de que as outras não poderão mudar, mas eu posso mudar a minha.
Então chega de saudosismo barato. Avaliemos o mundo em que vivemos, avaliemos a história, e depois sim, com argumentos, vamos discutir o que melhorou, o que piorou, e o que podemos fazer pra continuar evoluindo.

Marco Antonio Oselame

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